Ter a pele seca e ter a pele desidratada, ainda que à primeira vista possa parecer a mesma coisa, a nível fisiológico é algo diferente. Não só as causas são diferentes como a abordagem dermocosmética é muitas vezes distinta. Por isso mesmo é importante perceber com o que estamos a lidar mesmo: se seca, se desidratada ou se ambas. E é para isso que esta publicação serve.
Pele seca vs. pele desidratada
A pele desidratada é normalmente referida quando a pele apresenta défice de água na epiderme. A desidratação é muitas vezes associada a factores externos que podem ser contornáveis e por isso considera-se pele desidratada um estado e não um tipo de pele.
A pele seca, por sua vez, resulta de um défice de filme hidrolipídico à superfície da pele. Existe uma produção diminuída de lípidos (devido a um menos número de glândulas sebáceas, definido geneticamente), levando à falta de sebo na pele e consequentemente ao escape da água por evaporação. Devido à predisposição genética, é considerado por isso um tipo de pele.
A função da epiderme
Para perceber a origem da pele desidratada primeiro temos que perceber a função da epiderme no que toca à retenção da água.

O estrato córneo da epiderme, a camada mais externa da pele, é constituída por células empilhadas e compactadas, entre as quais existe o filme hidrolipídico. O filme hidrolipídico é constituído pelo factor humectante natural (Natural Moisturizing Factors, NMF), lípidos (ceramidas e colesterol) e água endógena e cria uma barreira que protege a pele do exterior.
A água na pele pode ser de origem:
- Endógena: Fornecida pela derme através de difusão molecular, que dá origem à transpiração
- Exógena: através do contacto com a humidade da atmosfera ou quando são aplicados cosméticos hidratantes, constituídos por constituintes dos NMF (ureia, alantoína) ou humectantes (glicerina, propilenoglicol, ácido hialurónico)
Assim, a desidratação resulta de:
- Perda dos NMF, ao nível da epiderme, capazes de reter a água
- Comprometimento das membranas celulares e espaços intracelulares que levem à saída dos NMF
- Quantidade insuficiente de água no meio intracelular
- Perda de ácido hialurónico ao nível da derme
O grau de desidratação do estrato córneo está relacionado com o equilíbrio entre a água endógena e as perdas por evaporação para o exterior. É fácil então de perceber que a pele seca, por falta de lípidos para reter a água, implica muitas vezes apresentar desidratação. No entanto, outros tipos de pele (oleosa, mista,…) podem também experienciar um estado de desidratação temporário da pele.

Causas da desidratação
A pele desidratada pode ser consequência de vários factores, nomeadamente:
- Mudanças climatéricas, vento, exposição solar, que promovem a evaporação da água. Falo sobre como cuidar da pele no inverno aqui.
- Idade. Com a idade o filme hidrolipídico vai ficando cada vez mais reduzido, o que diminui a capacidade de reter a água.
- Cosméticos com tensioactivos detergentes (laurisulfatos, lauriléter-sulfatos – SLES) e álcool que promovem a remoção dos lípidos cutâneos, levando a uma maior evaporação da água da pele.
- Locais de trabalho climatizados. O ar condicionado torna o ar mais seco, não permitindo um aporte de água exógena (fora do corpo) suficiente através da pele.
- Patologias da pele como eczema, psoríase, que implicam alterações do estrato córneo, diminuindo a capacidade de reter água.
Sinais e sintomas
Ainda que a pele seca seja um tipo de pele e a pele desidratada um estado, os sinais e sintomas são muito semelhantes. Ambas apresentam as seguintes características:
- Baça
- Frágil
- Sem flexibilidade
- A repuxar frequentemente
- Rugosa e áspera com alguma descamação
- Envelhecida e com linhas de desidratação
Como distinguir?
Sendo os sinais e sintomas muito semelhantes, nem sempre é fácil distinguir no momento. Digo “no momento”, porque para mim, a maneira mais fácil de distinguir entre uma pele seca e uma pele simplesmente desidratada é olhar para o histórico da pele, para os hábitos recentes, produtos habituais e até mesmo para a idade.
Os exemplos a seguir podem elucidar aquilo que quero dizer:
- Se no Inverno temos a sensação de “pele seca” mas no Verão a nossa pele é mista a oleosa, então provavelmente estamos perante uma pele mista a oleosa e desidratada. Dificilmente temos um tipo de pele a mudar de uma estação para a outra.
- Se estamos a falar da pele de um adolescente então provavelmente é uma pele oleosa e desidratada.
- Se a pessoa tiver mais de 30 anos, possivelmente estamos perante uma pele seca E desidratada (como a minha). A pele tende a perder a capacidade de produção de sebo com a idade.
- Se houve uma exposição excessiva ao sol e/ou vento ou se houve um consumo excessivo de álcool, é provável que a pele esteja apenas desidratada e não necessariamente seca.
- Se habitualmente a pele fica confortável com um gel-creme, mas apresenta os sinais e sintomas acima referidos, provavelmente é uma pele mista a oleosa mas desidratada.
Como tratar?
Agora que já sabem se a vossa pele é seca, desidratada ou ambas (eu!), vamos perceber a abordagem. A lógica é facilmente compreendida: aplicação de produtos que forneçam água, óleo ou ambos.
Pele seca
Para pele seca, o fornecimento de óleo pode ser através de emolientes e oclusivos (óleos vegetais, ceramidas, esqualano). Os produtos normalmente têm indicação para pele seca ou os termos “rico” e “nutritivo”. Mesmo o termo “creme” em certas marcas ou países (por exemplo na cosmética japonesa e coreana) é sinónimo de ser um produto mais dirigido a peles secas.
Pele desidratada
Para a pele desidratada é importante principalmente escolher humectantes (glicerina, sorbitol e ácido hialurónico) e constituintes de NMF (ureia, alantoína). Dependendo se a pele é seca ou oleosa, um óleo com ação oclusiva à noite pode ser útil para impedir a evaporação transpidérmica da água. Normalmente os termos “gel-creme”, “hydra” ou “water” são uma boa indicação de produtos para peles desidratadas.
Como explicado acima a desidratação é sinónimo de uma pele mais frágil e sensível, pelo que pode ser útil afastar-se dos produtos mais abrasivos (hidroxiácidos ou retinol) e dar preferência a fórmulas inócuas e simples.
Neste post explico como escolher o creme hidratante para cada tipo e estado de pele com base nos ingredientes.
Podem encontrar a rotina para a pele desidratada aqui.
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